17 de dezembro de 2024

Imagem Ilustrativa / Freepik

A cidade de Buenaventura, reconhecida por abrigar o principal porto da Colômbia, já foi uma das dez instalações portuárias mais importantes da América Latina devido ao seu acesso estratégico ao Oceano Pacífico e à sua ampla rede fluvial. No entanto, essas vantagens agora também atraem grupos criminosos, que disputam violentamente o controle de rotas para o tráfico de drogas e armas. A cidade está situada no departamento do Valle del Cauca, uma região marcada por desigualdades sociais e uma profunda crise de segurança.

Segundo a Defensoria Pública, pelo menos 39 grupos armados operam no distrito de Buenaventura, transformando-a em uma das áreas mais perigosas do país. A cidade é atualmente classificada como a 24ª mais violenta do mundo. Entre os episódios de violência registrados apenas em abril deste ano, destacam-se um ataque com carro-bomba contra um batalhão do exército, o massacre de cinco pessoas e o assassinato de dois vereadores. Essas situações geram deslocamentos massivos de famílias e comunidades inteiras, que fogem da crescente insegurança.

Impactos sociais e religiosos
A Colômbia ocupa a 34ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2024, da organização Portas Abertas, que identifica os 50 países onde os cristãos enfrentam maiores desafios. A violência urbana e rural em Buenaventura atinge duramente as comunidades religiosas, que precisam lidar com extorsões, confrontos e ameaças constantes. Pastores e líderes cristãos relatam que suas atividades são frequentemente restringidas, seja pelo medo de ataques ou por imposições diretas dos grupos armados.

Moisés (pseudônimo), um pastor local, explica:
“Decidimos reduzir o envio de trabalhadores para zonas de conflito, porque se tornou perigoso demais. Cuidar dos irmãos é um desafio diário, principalmente com as restrições impostas pelos grupos armados.”

Cultos religiosos precisam ser ajustados, realizados mais cedo e com maior rapidez. Vigílias e eventos prolongados são frequentemente suspensos devido a bloqueios e toques de recolher impostos por facções criminosas. De acordo com a Portas Abertas, entre 2023 e 2024, foram registrados 35 casos de perseguição contra cristãos na região, afetando cerca de 960 pessoas. Buenaventura concentra seis desses episódios somente este ano, o que provocou o êxodo de muitos membros de igrejas locais.

A perseguição religiosa reflete um contexto mais amplo de exclusão social. O Valle del Cauca, onde Buenaventura está localizada, possui altos índices de pobreza, com muitas famílias vivendo em condições precárias. Além disso, há uma forte influência de religiões afrodescendentes, como o sincretismo do Santerismo, e desafios no diálogo inter-religioso devido à fragmentação social e cultural.

O apelo da igreja local
Apesar das adversidades, os líderes religiosos continuam firmes em sua missão. Pedro (pseudônimo), um pastor que vive em Buenaventura, compartilha:
“Deus está aqui, mas humanamente nos sentimos sozinhos. Pedimos orações para que possamos continuar nosso trabalho, mesmo em meio a tantas dificuldades.”

Juan (pseudônimo), outro pastor local, reforça:
“Precisamos de trabalhadores e de recursos. Nosso objetivo é expandir o Reino, mas precisamos de apoio, tanto físico quanto espiritual, para continuar essa jornada.”

A igreja, em meio ao conflito, é também um dos poucos refúgios para a população vulnerável. Mesmo sob vigilância e ameaças, os líderes locais se esforçam para oferecer assistência espiritual e social, alimentando a esperança de uma sociedade mais justa e segura.