17 de dezembro de 2024
Imagem meramente ilustrativa: Pixabay

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Na quarta-feira (20), o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um alerta contundente aos líderes mundiais durante uma cúpula sobre a crise climática. Ele afirmou que a crise climática havia “aberto as portas para o inferno”, destacando a ausência notável dos principais poluidores, China e Estados Unidos, na reunião.

As negociações foram parcialmente obscurecidas pelo anúncio do Reino Unido, que também não participou da cúpula, de que estava revertendo políticas destinadas a alcançar sua meta de zero líquido de emissões. Isso aconteceu em meio a um cenário de aumento dos eventos climáticos extremos e temperaturas globais recordes. Surpreendentemente, as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar, enquanto os subsídios aos combustíveis fósseis totalizam impressionantes US$ 7 trilhões anuais.

Guterres havia concebido a “Cúpula da Ambição Climática” como um fórum direto, deixando claro que apenas líderes com planos concretos para alcançar emissões líquidas zero de efeito estufa seriam convidados. Em seu discurso inicial, ele mencionou o “calor insuportável” de 2023 e os “incêndios históricos”, mas ressaltou que ainda existe a possibilidade de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius, considerado crucial para evitar uma catástrofe climática de longo prazo.

No entanto, Guterres advertiu que a humanidade havia “aberto as portas para o inferno”. A lista de 41 palestrantes divulgada pela ONU, que excluiu China, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Índia, refletiu a ausência de líderes importantes. O presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, entre outros, optaram por não comparecer à Assembleia Geral da ONU deste ano.

Sunak também anunciou uma mudança de abordagem na quarta-feira, visando alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2050. Isso inclui a proibição da venda de carros movidos a combustíveis fósseis e metas de eficiência energética mais flexíveis para propriedades alugadas. Essas medidas surgem em um momento em que o Partido Conservador de Sunak enfrenta desafios nas pesquisas devido a questões de custo de vida.

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursou na Assembleia Geral na terça-feira (19), mas enviou seu enviado para o clima, John Kerry, para a reunião, embora Kerry não tenha tido autorização para falar no segmento de alto nível. Isso gerou críticas de ativistas climáticos, incluindo Catherine Abreu, diretora-executiva da organização sem fins lucrativos Destination Zero, que apontou que os EUA continuam expandindo projetos de combustíveis fósseis, mesmo com investimentos em energias renováveis.

A frustração está crescendo entre ativistas climáticos, especialmente os jovens, que se manifestaram em Nova York no último fim de semana na “Marcha pelo Fim dos Combustíveis Fósseis”.

No entanto, houve alguns pontos positivos. O chanceler alemão, Olaf Scholz, comprometeu-se com 2 bilhões de euros (US$ 2,1 bilhões) para um fundo de ação climática em países em desenvolvimento. O Brasil também anunciou sua intenção de alcançar o desmatamento zero na Amazônia até 2030, revertendo políticas anteriores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Apesar desses gestos, as ações dos países ainda não parecem estar à altura do desafio. A questão do financiamento da ação climática continua sem solução, com as economias avançadas falhando em cumprir a promessa de canalizar US$ 100 bilhões anuais para países menos desenvolvidos até 2020. Um fundo de “perdas e danos” para ajudar as nações mais afetadas pelas mudanças climáticas ainda não está operacional.

O presidente queniano, William Ruto, sugeriu um imposto universal sobre o comércio de combustíveis fósseis para cobrir a lacuna fiscal, enfatizando a necessidade de justiça em vez de caridade. A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, pediu que o mundo tratasse a crise climática com a mesma seriedade dada aos conflitos internacionais, como a situação na Ucrânia.

O caminho para uma economia global livre de petróleo, gás e carvão será um tema altamente contestado nas negociações da COP28 em Dubai, que começam no final de novembro, envolvendo quase 200 nações.