17 de dezembro de 2024

Autor: Junio Cezar da Rocha Souza – Professor de Ética e Cidadania da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e de Filosofia no Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília / Internacional

 

“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.” (Êxodo 20.12).

No dia 15 de maio, é comemorado o Dia da Família, e para falar dessa data, é importante considerar alguns pontos históricos. Madame de Staël em sua famosa publicação de 1813, Da Alemanha, ao exaltar sobriamente o espírito germânico, faz alusão a Martinho Lutero, figura notável do movimento da Reforma Protestante do século XVI.

Ela afirmou: “Quando Lutero apareceu, a religião não passava de um poder político, atacado ou defendido como um interesse deste mundo. Lutero a reclamou para o terreno do pensamento” (STAËL, 2016, p. 593). A Reforma Protestante constitui, na história da civilização ocidental, um marco, também, para a construção da cultura e do pensamento modernos. A afirmação do sola Scriptura trouxe a Bíblia, agora traduzida para a língua do povo e acessível a este, para o centro, adotada como referência absoluta para a tratativa dos mais variados assuntos.

A Escritura Sagrada aludirá a alguns princípios tomados por diversos pensadores como construtos para noções fundamentais relativas ao funcionamento da sociedade moderna. Por exemplo, o Decálogo não constituirá apenas um ordenamento religioso intra muros, servirá como matriz para a reflexão moral e para aspectos da legislação pública.

João Calvino (1509-1564), que figurou como representante da Reforma Protestante em Genebra, ao falar sobre o Quinto Mandamento que preceitua a honra devida a pai e mãe, anuncia o princípio geral ali contido: “[…] não deve ser ambíguo que o Senhor aqui estabelece uma regra universal, isto é, conforme tomamos conhecimento de que, por sua ordenação, alguém nos foi posto como superior, que o honremos com reverência, obediência e reconhecimento, e com quantas formas de servi-lo pudermos.” (As Institutas, II, VIII, 36). O Quinto Mandamento estabelece o princípio da obediência às autoridades. E aprouve à divina norma iniciar esse ensino no seio familiar.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em O Contrato Social: princípios do direito político, ao discorrer sobre as primeiras sociedades, não titubeia em dizer que “a mais antiga de todas as sociedades, e a única natural, é a da família” (Livro I, II). A família, regida pelo Quinto Mandamento, é o espaço em que a orientação quanto às relações entre iguais, inferiores e superiores se estabelece. A postura de civilidade se espraia, quando apreendida devidamente no âmbito doméstico, para a esfera das demais instituições e do Estado.

O respeito, a cordialidade, o amparo, o amor, a proteção e outras virtudes tão necessárias ao exercício da cidadania estão vinculados ao preceito divino dirigido à família, o de honrar pai e mãe. Se cada vez mais falamos em cidadania, e no bom funcionamento da sociedade, não podemos nos esquecer da madre que tem a responsabilidade primeira de gestá-la: a família.

 

 

*Imagem meramente ilustrativa: Pixabay

 

Comentário sobre

  1. Excelente!

    Quer uma sociedade bem estruturada? Cuide de sua casa, de sua família. Cultive e proteja o seu lar. Do contrário, será inútil reclamar…

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